sexta-feira, 29 de maio de 2009

Deixe-me viver!

Encontrei este pobre nabo em nossa cozinha. O coitado foi comprado nesse início de semana sem folha alguma, metade dele foi para a salada. Ele não se conformou e lança suas folhas de protesto para ver se alguém se comove com sua deplorável situação...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Entre dois amores

Aviso aos navegantes!
Ando meio relapso com as postagens. Desde que o piano foi ressuscitado uso qualquer minutinho de folga para tentar arrancar algum som harmonioso deste intrincado e confuso mecanismo de teclas e cordas orientado pelo ainda mais confuso sistema de escrita musical.Até agora o que mais próximo consegui de uma música lembra o gotejar irregular da chuva sobre uma bacia de alumínio vazia. Sempre achei que o trabalho no torno de cerâmica se equiparasse ao piano quanto a dificuldade no aprendizado. Mas subestimei o bichinho. Um dos dois vai ter que ceder. Ainda hei de domá-lo e sair cantarolando por aí.
Toda a família está envolvida com o piano. Tive a brilhante ideia de facilitar a vida colocando etiquetinhas em cada tecla com o nome das notas. A professora me deu uma semana para sumir com elas. Laura e eu estamos tendo aulas e a Mariângela entrou na onda e está revisando o que estudou. Organizamos um sistema de rodízio entre a utilização do piano e o computador. E além disso ainda temos que trabalhar...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Libélulas em formação

Estranhamente, depois da expulsão dos ratos ladrões do atelier, começaram a aparecer estranhos insetos com asas de arame. O primeiro apareceu pousado em uma alface d'água, curtindo o visual.


Em seguida foram as borboletas com o mesmo tipo de asas pousadas nos potes de flores e outros locais não comuns para elas.


Um dia encontrei toda a frota de insetos reunida em um canto escondidinho. Pareciam estar planejando alguma coisa.

Passei a me preocupar realmente quando flagrei as libélulas em formação sobre as folhas flutuantes da ninfeia como num porta aviões. Estariam elas a mando dos ratos?

Pelo menos desta vez tenho um aliado. Consegui passar o observador para o meu lado facilmente, sob ameaças de expulsão.


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Piano-armário, armário??


Faz muitos anos que temos um piano.
Logo que voltamos da Alemanha a Mariângela resolveu estudar piano e acabamos comprando um usado. Ela estudava assiduamente e era muito legal ouvir música saindo daquela caixa mágica. Depois que engravidou e nasceu a Laura o foco de sua dedicação foi dirigida à Laura.O piano armário, coitado foi ficando mudo em seu canto e lentamente transformou-se em um armário de fato. Só lembravamos que ele era ele na hora de mudar de residência. Até agora foram 4 vezes. Numa delas fomos morar no apartamento da minha irmã, no terceiro andar, sem elevador. Tínhamos feito uma olaria clandestina. Na área de serviço ficava o torno, o quarto da enpregada servia de depósito de matéria prima. Esmaltávamos no tanque e o forno ficava sobre o vaso sanitário do banheirinho. O piano, coitado, foi desmontado na rua pelo afinador, transportador e vendedor de pianos e transportado por peças escada acima. No fim de cada mudança ele era devidamente afinado e ficava na espera de que alguém fizesse música nele. Sempre voltava a sua humilhante função de armário.Na última mudança de Ivoti a Porto Alegre os 5 homens da transportadora não conseguiram carregá-lo no caminhão. Ficou ali por duas semanas, abandonado na varanda da casa de um sítio deserto. Uma imagem desoladora. A equipe de transportadores de piano foi acionada novamente. Já fazem 4 anos que sobre ele se acumulam objetos , desenhos, livros e muita poeira. Desta vez nem afinado ele foi.
Ainda resta uma esperança. A Laura, curiosa em experimentar as possibilidades da vida, mostrou interesse por música. Resolvemos dar uma chance para os dois. Depois de uma boa faxina e muito óleo de peroba ele ficou com uma boa cara para receber o afinador. Ele ficou inicialmente chocado com o estado do piano, as cravelhas enferrujadas. Mas foi a luta, viu que a ferrugem era somente externa. Descobriu a assinatura e a data de fabricação de 1916 do próprio Essenfelder, na parte interna da primeira tecla. Passou a tarde afinando e ajeitando o pobrezinho. Eu e a Laura ficavamos besourando pelo quarto, curiosos, até que o afinador gentilmente nos expulsou do quarto dizendo ser impossível afinar um piano de ouvido com tanto ruido ao redor.
Será que desta vez ele terá a oportunidade de mostrar conosco porque veio ao mundo?
O piano é como o barro que precisa de mãos talentosas para trazê-lo a vida e mostrar sua vocação. Nosso pobre centenário piano. Me pergunto quantos de seu anos serviram para produzir música, 10% da vida dele conosco só serviu de armário.
Ela já teve a primeira aula e eu, seduzido pela música também vou fazer aulas.





Alguns cacarecos que foram removidos dele





terça-feira, 5 de maio de 2009

Cerâmica descartável ?







Algumas vezes os clientes no brique me perguntam se os saleiros que eu vendo são aqueles que descascam com o tempo, ou me dizem que estes saleiros são tão bonitos, mas é uma pena que desmancham . Nas primeiras vezes pensei que fosse uma piada. Não conseguia entender como uma cerâmica bem queimada poderia descascar e desmanchar. Passei a informar aos clientes que minha cerâmica é queimada em alta temperatura, quando as partículas de argila que compõe a cerâmica se fundem quase completamente entre si e com o esmalte. As peças resultantes são muito resistentes e impermeáveis. Passei a oferecer a recompra de um saleiro meu, se descascasse, pelo dobro do valor pago. Como dizem meus vizinhos hermanos - La garantia soy jo!

Até hoje não apareceu ninguém para reivindicar o seguro.

Na semana passada uma vizinha do bairro apareceu no atelier carregando um dos mal afamados saleiros . Pediu que eu fizesse um que cumprisse bem sua missão de guardar o sal sem se desmanchar. Vi pela primeira vez um exemplar do citado saleiro. Com um leve toque de unha arranquei escamas de esmaltes e o corpo cerâmico Não resisti e dei uma linguada na parte descascada da cerâmica. Uma pedra de sal.

Analisando bem percebi que a temperatura de queima provavelmente gira em torno de 900 graus, que não é suficiente para fundir adequadamente as partículas argilosas. Por ação da umidade e agressividade do sal estas ligações vão se desfazendo aos poucos até terminar corroendo todo o saleiro. Os esmaltes para esta temperatura de queima necessitam de poderosos fundentes para que se transformem em vidro. O mais eficiente deles e o mais perigoso é o chumbo, que é tóxico por produzir um vidrado instável, liberando pequenas quantidades de chumbo em determinadas circunstâncias. Atualmente existem esmaltes apropriados para cerâmicas utilitárias, chamados de alcalinos. Sem exames laboratoriais não tem como saber a composição dos esmaltes utilizados.

Por esta razão que optei pela cerâmica de alta temperatura (1260 graus) quando não é mais necessário a utilização de fundentes tóxicos e quando também posso formular os esmaltes sabendo exatamente quais os minerais utilizados.

Os clientes me contam que estes saleiros perecíveis são invariavelmente comprados em Gramado, cidade turística na serra gaúcha.O movimento das lojas é grande e alguns artesãos primam pela quantidade e não pela qualidade. Infelizmente eles prestam um desserviço e comprometem os artesãos que querem trabalhar com responsabilidade.




domingo, 3 de maio de 2009

Brincando de mágico

A cerâmica tem 2 momentos de grande magia. O primeiro deles é quando a mão transforma a matéria adormecida em sincronia com o movimento do torno e a sensibilidade do artista. As formas nascem entre os dedos e crescem até o limite do barro e da capacidade do torneiro. Vejo o encanto nos olhos dos observadores quando veem pela primeira vez nascer do barro informe as peças de fino equilibrio e harmonia. Neles vejo o espanto e o fascínio da criança que pela primeira vez na vida viu o engolidor de fogo no circo ou a pomba branca saindo da cartola vazia do ilusionista.

O segundo grande momento mágico ocorre quase sem minha interferência. Ele decorre das mesmas forças primitivas presentes nos primórdios do planeta e que ainda hoje se vê quando as suas forças internas descem pela montanha na forma de lava incandescente. Este ambiente primordial é hoje reproduzido dentro de sofisticados fornos em um aquecimento progressivo de mais ou menos 12 horas até atingir a temperatura de 1260 graus. A esta temperatura os minerais que utilizo em minhas formulações de esmaltes recordam-se de sua formação na incandescente terra primitiva, quando as ligações químicas entre eles eram muito instáveis e grande a troca de parceiros. Na temperatura ambiente atual as parcerias químicas estão consolidadas e vigora a fidelidade. A medida que a temperatura do forno sobe as uniões dos diferentes minerais se dissolvem e eles se sentem livres para se reorganizarem continuamente entre si, transformam-se em uma água colorida de vidro fluido que enrijece na medida que a temperatura baixa após o desligamento do forno. No dia seguinte abre-se a porta e pode se ver o que resultou desta festa química. Quando bem sucedida, um show de brilhos e cores , mas muitas vezes decepções e frustrações , como após todas as festas.

Uma espiadela rápida no embalo dos 1260 graus

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Flores de outono




Nem a beleza destas flores que tomam conta da ramada no outono suaviza o coração e o olhar sempre vigilante do observador. As abelhas e borboletas aproveitam para carregar seus estoques de doces na espera de um inverno minguado. Ontem, passando pela rua me dei conta que o que vejo do atelier é só a ponta do iceberg das flores. O telhado está virado em um tapete verde - amarelo. Além delas tenho uma vinha que se espraia por tudo.