segunda-feira, 29 de junho de 2009

Erro de estratégia

Este inverno meio doido - como todo inverno gaúcho, deixou confusas plantas e borboletas.
Normalmente as larvas aparecem no início da primavera, comem que nem umas loucas as folhinhas tenras do "Saco de Padre", engordam como porcas confinadas e depois de um período de retiro metamorfósico transformam-se em exuberantes borboletas.
Aqui apareceu uma borboleta confusa de calendário que colocou ovos nas plantas mirradas. As lagartas quase não se movem quando está frio. Resultado, quando atingiram o momento de se transformarem elas estavam com a metade do tamanho que usualmente têm. Acho que a seleção natural não terá piedade delas.
Apesar do tom soturno, apreciei o fato dela ter escolhido como local de transformação uma bola de cerâmica que ornamenta o jardim.




sábado, 27 de junho de 2009

Vivências




Foi indicado pelo amigo Marcos, muito apropriadamente, o filme Sonatas de Amor que conta a história de de Clara e Robert Schumann numa versão em cd do filme de 1947. A história é belíssima, quase em forma de ópera em alguns momentos. O amor de Clara por Robert e ambos pela música é de degelar o coração de qualquer brutamontes. Saí meio abalado do filme, com uma sensação de maravilhamento misturado com a impressão de levar a vida num lamaçal de mediocridade como artista.


Com minha arte gostaria de um dia conseguir sair deste lamaçal e respirar o ar mais limpo e frio das alturas e ter as sensações deste observador retratado pelo pintor romântico alemão Caspar David Friedrich . Já tive este meu sentimento quando passei alguns dias sozinho no Itaimbezinho, acampado próximo aos precipícios de quase 1000 metros da serra gaúcha, ou quando escalei a mais alta montanha da Alemanha, o Zugspitze de 3000 metros, com pouca experiência em escaladas e também sozinho.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Novos horizontes


Tem momentos em nossa vida que cansamos de nosso mundinho que confortavelmente ajeitamos para nosso abrigo e conforto. Todos os dias quase tudo sempre igual, dias clareando pela manhã e escurecendo pela tardinha. A rotina desvanecendo a vida, empoeirando nosso ser e ofuscando seu brilho. Nestes tempos, do fundo mais profundo de nós mesmos brota um ventinho de mudança e se o deixamos livre, da brisa um vendaval e com mais um nada um tornado que tudo tira tudo do lugar. Daí não tem mais jeito, é hora de experimentar os desafios de um mundo novo, cheio de possibilidades que a vida nos oferece. Podemos rolar estes dados tantas vezes que quisermos.
Vamos abrir as paredes que nos cercam e dar uma espiadela...








Horizonte em Fartura,SP.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Outono no Atelier

Hoje amanheceu um típico dia de outono gaúcho. A neblina se estendeu até o meio dia e o frio convidava para um café quente com pantufas, nos pés, é claro. No inverno o atelier fica mais longe e a caminhada até ele é mais demorada. O olhar contemplativo na neblina úmida e fria desconvida para o trabalho no torno. O esquema é enrolar um pouco, esquentar a água para o tôrno, pensar nas contas já vencidas e nas que virão e por-se ao trabalho. O mundo não tem paciência com os poetas. Os coitados só são admirados depois de mortos. Já se sabe o que fizeram e não podem aprontar mais. O poeta só é seguro depois de ido.
Bem! Antes do torno, uma passeadinha pelos verdes do atelier revelam lindos e intrigantes sinais do outono.

A umidade da neblina se condensa nos espinhos dos meus cactus.
Li alguma vez que os espinhos dos cactus além de defensores, auxiliares na disseminação das espécies, quando se grudam em algum animal que os arrastam dolorosamente juntos, também servem como captadores de umidade do ar, principalmente quando estão em áreas desérticas.



Uma de minhas plantas preferidas é o Gynco biloba, por vários motivos.Pelo estilo de construção de folhas, sem nervura central e pelo design geral percebe-se que ele é um remanescente de uma vegetação pré-histórica que sobreviveu a todas as crises que atingiram o planeta. Também li que foi uma das poucas plantas que foram salvas da extinção pela mão do homem. Ele escapou do desmatamento das florestas que cercam áreas do Himalaia por que era usado como ornamentação para os templos.
De suas folhas também são extraídos poderosos medicamentos. Não pode ser utilizado in natura como chá, devido as toxinas que devem ser neutralizadas em laboratórios farmacêuticos.
Para mim o principal motivo de ter sempre por perto um Gynco é sua beleza nas mudanças de estações . No outono ele tinge suas folhas do profundo verde para o amarelo ouro em poucos dias, parecendo um sol deslocado. As folhas se vão quase instantaneamente deixando galhos pelados emergindo de um tapete dourado. Na primavera as folhas brotam instantâneamente, enroladinhas como uma língua de sogra que se espicha no primeiro sopro de calor.





A porta do atelier tomada pela vinha verde no verão e somente cipós entrelaçados no inverno


A vinha avermelhando entre as unhas-de-gato

A folha da pereira em seu apogeu artístico antes de virar adubo.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Lagarto na manteiga e Frango ao lagarto

Ontem fiz mais uma das minhas manteigueiras, como alça coloquei um lagarto meio esquálido, resultado de uma dieta rigorosa vegetariana. Mais uma vítima da tirania da alimentação saudável sem gorduras.
Ao contrário deste lagarto tradicional, gordo e que traça tudo! Encontrei-o lanchando confortavelmente um frango na casa de minha avó. E reparem, sem tirar a pele rica em gordura.


Ateliê a céu aberto




Me deparei com esta reportagem da Zero Hora que me remeteu diretamente a um cenário que poderia ter sido criado por Gabriel Garcia Marquez: Uma Máquina de costura no meio de um campo descampado e o costureiro "Cabelo" remendando grossas lonas de caminhão. Ao fundo vêem-se os caminhoneiros esperando. É uma cena bonita que merecia ser eternizada por algum pintor sensível.
Tentei me imaginar com um torno de cerâmica no meio de um deserto, cercado de vasos secando ao sol, torneando concentrado, completamente alheio à bizarrice do entorno. Como apelido poderia ser o oleiro " na Lama".
Teve uma ocasião que montei meu torno na rua em frente ao brique da redenção. Fiquei horas torneando, as pessoas se aglomeravam ao meu redor. Foi uma experiência interessante. Ficaria mais inusitado se não houvesse público.

sábado, 6 de junho de 2009

Saúvas


Com o inverno além do frio vieram as saúvas pedir abrigo no atelier. O que me estranha muito, que elas tem a fama de se matarem trabalhando no verão para se esbaldarem no inverno com seus estoques. O mesmo fazem minhas jataís, com o sótão lotado de mel, não querem nem saber de passeios invernais. As colmeias parecem abandonadas. O que era de se esperar seriam as mal afamadas e preguiçosas cigarras que cantam no verão e não se preparam para momentos difíceis, mais ou menos como a maioria dos artistas e artesãos...

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Defendendo o patrimônio?


Sabidamente, desde os primórdios da humanidade os cães são além de companheiros inseparáveis, defensores incondicionais do patrimônio de seus donos, muitas vezes sacrificando a própria vida em lutas ferozes contara invasores. Atualmente ocorrem excessos criminosos. Algumas raças extremamente agressivas que são criadas para defesa, as vezes o condicionamento do adestramento não contém a fúria genética e eles matam pessoas inocentes, inclusive o dono.
Como sempre aqui em casa ocorre o mesmo, com a variante de que em vez de defenderem minha casa , nossas cachorras defendem ferozmente a ração, dos ratos. Hoje pela manhã a Preta e a Perdita dormiam confortavelmente debaixo do forno, de repente a pretinha saiu correndo, ouvi um quiiiic, e logo voltou com um enorme rato na boca, retornou ao ninho, largou o rato entre elas e voltou a dormir. Um lanchinho para mais tarde. Elas estão em luta constante contra os ratos que teimam em atacar sua ração que fica ao lado do forno. Passam a noite de plantão, cheirando e fuçando em tudo.









A Perdita como não poderia ficar para traz, também deu suas mordidelas...


quinta-feira, 4 de junho de 2009

Aquecimento global?

Nos últimos dois invernos o aquecimento global fez um longo desvio, deixando Porto Alegre e seus despreparados habitantes tiritando com o frio polar vindo da Patagônia. Trabalhar com cerâmica nesta época é coisa de pinguim. A água tem que ser aquecida para esquentar as mãos quando se torneia o barro frio. Aquecer o corpo por dentro vai por conta da caneca de chá com infusor, que é aquecida por uma velinha dentro de um rechô. Chá quente o dia todo!

Não reparem a certa "sujisse", mas é ai que fica minha canequinha de chá, ao lado do torno.

Os respingos de argila, que eventualmente acertam a caneca, enriquecem o blend do chá.

Vodu ?

Estarei usando as forças do mal para eliminar a concorrência?


Não! É só um recurso de esmaltação com fios de cobre, que se funde com o esmalte no forno trazendo estas interessantes manchas esverdeadas.



Bule de chá em forma de concha com o modelo ao lado.O que me deixa fascinado com as conchas é que a espiral determina sua idade, é a lembrança de sua vida passada, cujo ponto central remonta ao seu nascimento e a medida que o tempo passa a espiral vai aumentando.



Bueno! A confusão com os ratos continua. Desta vez tem um gato em apuros tentando render um rato no alto de um bule de chá.