sábado, 21 de março de 2009

Criaturas de Fartura

Além das pessoas e plantas Fartura é cheia de bichos normais e alguns um pouco esquisitos. Os domésticos estão por ali fornecendo leite e ovos em troca de cuidados. De vez em quando alguma galinha desavisada vira prima dona num dueto com o quiabo sob a batuta de dona Olga, na orquestra de panelas - uma delícia!

A galinha é colocada de cabeça para baixo em um curioso instrumento artesanal em forma de funil. Com uma faca afiada, zupt! e ela vai desta para melhor... panela. Sem muito estardalhaço!



As galinhas d'angola, meio selvagens e achando-se muito espertas fazem seu ninho coletivo, bem longe na mata, para protegerem seus ovos das frigideiras sempre alertas. A artimanha não dá muito certo. No mato quem dos ovos se alimentam são os lagartos. Deve ser por isto que elas proclamam sua fraqueza em intermináveis reclamos ritmados.Seu Toninho gentilmente fez para a Laura uma peteca com palha de milho e penas da angola. A amarração da palha é cheia de truques. Me pergunto como ele conseguiu capturar uma arredia angola para o complemento estabilizador da peteca.





No penúltimo dia de nossa estada em Fartura descobrimos uma árvore cujas folhas foram completamente devoradas pelas lagartas, que rastejavam feito baratas tontas pelos galhos pelados na procura da sobremesa. Pareciam enfeites coloridos de um natal tardio. Me intriga o padrão zebroide das listras transversais das lagartas. Com certeza elas e as zebras tem algum ancestral comum ainda a ser descoberto pela ciência .





No dia seguinte elas estavam agonizando, dependuradas nos galhos e espalhadas pelo chão. Suspeito que na cartilha do zeloso agricultor não está contemplado o perdão por beleza das lagartas devoradoras de folhas - infração grave na ordem de qualquer sítio .



Sensibilizado com a situação, elas receberam de minha parte uma homenagem póstuma, que diga-se de passagem, já passei nos trocos no brique de domingo. Desta forma vou continuar produzindo as homenagens enquanto houver demandas...


A cachorra Brida um dia chegou no sítio, gostou e por lá ficou. Sua vida também teve as suas agruras me contaram os amigos, quando ela resolveu investigar mais de perto um ouriço. Marcos fez hora extra removendo os espinhos. Também recebeu uma homenagem por bravura. Não por braveza, por ser dócil demais.




Descansávamos na varanda cheia de redes após um dia de atividades. Ouvia-se muitos toc-toc de pica-pau à caça de larvas. Não consegui ver nenhum deles. Admiro estas criaturinhas pela persistência e capacidade de se ocultarem atrás dos troncos quando percebem que alguém os observa, por isto também entraram na lista de homenagens.





As cigarras de Fartura são as coisas mais estranhas. Não conseguiam concluir canto algum.Ficavam só nos acordes iniciais, no arranque, sem conseguir engatar nem a primeira marcha.E, além disso, à noite, na hora de dormir, voavam pela casa cantarolando à cata da partitura completa.
Por isso não receberam homenagem alguma!

Um comentário:

Marcia H disse...

Nossa, que homenagens lindas, adorei a tigela com a lagartinhas e a do pica-pau, aqui na árvore da vizinha tem sempre um e como ainda nao temos folhas, podemos vê-lo sempre. Muito bonito e majestoso!

Vc envia para o exterior? Aceita CC?