Algumas vezes os clientes no brique me perguntam se os saleiros que eu vendo são aqueles que descascam com o tempo, ou me dizem que estes saleiros são tão bonitos, mas é uma pena que desmancham . Nas primeiras vezes pensei que fosse uma piada. Não conseguia entender como uma cerâmica bem queimada poderia descascar e desmanchar. Passei a informar aos clientes que minha cerâmica é queimada em alta temperatura, quando as partículas de argila que compõe a cerâmica se fundem quase completamente entre si e com o esmalte. As peças resultantes são muito resistentes e impermeáveis. Passei a oferecer a recompra de um saleiro meu, se descascasse, pelo dobro do valor pago. Como dizem meus vizinhos hermanos - La garantia soy jo!
Até hoje não apareceu ninguém para reivindicar o seguro.
Na semana passada uma vizinha do bairro apareceu no atelier carregando um dos mal afamados saleiros . Pediu que eu fizesse um que cumprisse bem sua missão de guardar o sal sem se desmanchar. Vi pela primeira vez um exemplar do citado saleiro. Com um leve toque de unha arranquei escamas de esmaltes e o corpo cerâmico Não resisti e dei uma linguada na parte descascada da cerâmica. Uma pedra de sal.
Analisando bem percebi que a temperatura de queima provavelmente gira em torno de 900 graus, que não é suficiente para fundir adequadamente as partículas argilosas. Por ação da umidade e agressividade do sal estas ligações vão se desfazendo aos poucos até terminar corroendo todo o saleiro. Os esmaltes para esta temperatura de queima necessitam de poderosos fundentes para que se transformem em vidro. O mais eficiente deles e o mais perigoso é o chumbo, que é tóxico por produzir um vidrado instável, liberando pequenas quantidades de chumbo em determinadas circunstâncias. Atualmente existem esmaltes apropriados para cerâmicas utilitárias, chamados de alcalinos. Sem exames laboratoriais não tem como saber a composição dos esmaltes utilizados.
Por esta razão que optei pela cerâmica de alta temperatura (1260 graus) quando não é mais necessário a utilização de fundentes tóxicos e quando também posso formular os esmaltes sabendo exatamente quais os minerais utilizados.
Os clientes me contam que estes saleiros perecíveis são invariavelmente comprados em Gramado, cidade turística na serra gaúcha.O movimento das lojas é grande e alguns artesãos primam pela quantidade e não pela qualidade. Infelizmente eles prestam um desserviço e comprometem os artesãos que querem trabalhar com responsabilidade.
Um comentário:
será que na~otem uma " mão indígena" nesses saleiros hehee
abraço,javier
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