sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Come-se isto também?

Preciosas lagartas e aranhas encontradas em Fartura







Nestes dias de carnaval fomos visitar nossos amigos
Neide e Marcos .
Após alguns dias bem legais em São Paulo fomos visitar o sítio dos pais da Neide em Fartura, próximo da divisa com Paraná. Os pais dela, Dona Olga e seu Toninho nos receberam maravilhosamente bem. Marcos e Neide construiram sua casa no alto de uma colina, com uma varanda cheia de redes e com vista para o vale. Há um processo de seleção natural para visitar o refúgio deles. A subida, quase escalada, é feita a pé arrastando as mochilas morro acima. O carro fica no bem bom, lá embaixo. Quem não aguentar a subida não usufrui da vista. Na descida tem que se tomar cuidado com os enormes bolos fecais que as vacas deixam propositalmente sobre pontos estratégicos da improvisada escada de pedras. Mariângela deixou sua impressão na calçada da fama de Fartura quando descia a trilha, carregada de sacos e mochila na hora de ir embora.

Neide transformou o local em um berçario de plantas comestíveis esquisitas, nativas e exóticas.

Ela consome ervas daninhas como a famigerada tiririca - uma praga que destrói qualquer horta. Descobriu que é da mesma planta que se prepara em Barcelona a "Horchata de chufa". Além do que a região oferece tem uma coleção de plantas exóticas de origem e gostos exóticos: Cipó da ilha do Marajó com folhas com gosto de alho, manjericão com sabor de erva doce, uma planta cujas folhas deixam a lingua amortecida quando são mastigadas, tomateiro que dá em árvores. Até uma variedade de hibisco tem as flores usadas como tintura renovadora de calçados. Basta arrancar o lindo botão em flor e esfrega-lo impiedosamente no calçado e ele fica ótimo.

Pelo que sei, até agora o mundo dos insetos de Fartura tem sido poupados pela imaginativa Neide. Até quando?

Decifra-me ou te devoro

Tem momentos em nossa vida que nos deparamos com situações
com conteúdo tão ambiguo que não sabemos o que fazer.
Alguem tem ideia de qual é a porta da vida e qual a da morte?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Se eu levar dois, cê faz por quanto?

Participo de uma feira com tradição de 25 anos às margens do parque da redenção. Em domingos ensolarados o parque é invadido por porto alegrenses e turistas. Os gaúchos sempre carregam consigo o inseparável chimarrão. O desfile de cachorros esquisitos me faz duvidar que todos eles descendam de um furioso lobo ancestral.
Somos aproximadamente 300 expositores divididos entre antiquários, artistas plásticos e artesãos.
Gosto muito desta feira. Uma romaria de artesãos saem de seus obscuros ateliers com os carros e bolsas cheias do que conseguiram produzir durante a semana e se encontram ali. É uma festa. Eu fico praticamente isolado e concentrado no meu atelier durante a semana. O domingo é o dia de encontrar os colegas e amigos. Também é um dia de vendas. Gosto muito do contato com o público, ver os olhares curiosos e maravilhados deslizando pelas formas e os coloridos da cerâmica. Acho muito legal conversar tranquilamente com os clientes, explicando com detalhes como nasce uma cerâmica.

Por ser uma feira de rua, muitas vezes me deparo com irritantes e insistentes pedidos de descontos que me tiram do sério. Como sou um artista me sinto muito desvalorizado com esses pedidos, e resolvi cortar o mal pela raiz.



O resultado foi imediato e encarado com muito bom humor. Tenho até alguns colegas que seguiram a minha ideia.
Com o passar do tempo, percebi que algumas pessoas estavam se fingindo de analfabetas e descaradamente pediam o infame desconto. Pegava eles na mentira quando preenchiam com destreza o cheque. Tive que tomar mais uma atitude, e acrescentei o meu morcego protetor.
Com esse reforço na mensagem, até agora consegui calar os pedichões mais desaforados.
Até quando?

domingo, 15 de fevereiro de 2009

In Memorian ao Leslie

Esta história começa com um comentário que fiz no blog do meu amigo Marcos:
"Os vegetais herdarão o planeta"
Ele propunha ironicamente que para salvar o mundo da invasão verde, deveria se asfaltar tudo.

Marcos!
Proponho uma solução mais ecológica:Quando eu era criança tive um cabrito que até pneu de carro comia. Ele era peludo como um gato angorá. Tu poderias soltar algum descendente dele neste jardim de horrores. Em uma semana poderias passear neste jardim transformado em deserto com o irritante perfume dos flores substituído pela inebriante catinga de bode (Cuidado com as bolinhas de cocô)
Este bode se chamava , pasme, Leslie. Ganhei do meu vizinho, quando tinha a idade da Laura e quando ele ainda era um cabritinho inocente.




Como não existem registros fotográficos da época, fizemos um retrato-falado dos acontecimentos. Minha filha e web designer do blog, Laura, fez esta reconstituição acima. As outras são de minha autoria, feitas às pressas hoje à tarde quando estava no brique.

Uma vez ele comeu todas as mangueiras de uma máquina de passar veneno na lavoura. Passou uma semana tendo ataques epilépticos.Um vizinho me receitou trata-lo com linhaça descansada em água. Entre um ataque e outro eu enfiava linhaça guela abaixo do Leslie com auxilio de uma garrafa de Pepsi (das de vidro). E ele ficou bom. Acho que eu seria um bom médico...


O Leslie e eu éramos inseparáveis. Ele aprontava tudo que podia, uma das atividades preferidas dele era escalar um galinheiro enorme. Ele pulava em um telhadinho e depois pulava no maior, e ficava lá na ponta cacarejando os seus béééééés. Não sei se ele conseguiu conquistar alguma galinha dessa forma. Eu ficava muito aflito com a situação, mas ele não estava nem aí para minhas súplicas, para que descesse imediatamente dali.


O coitado cresceu e morreu virgem, a menos que seus cacarejos tivessem dado algum resultado. Eu não vi nada, e também não soube que alguma galinha tenha chocado ovos dos quais nascessem cabritos. Ele foi crescendo e se transformando em um bode adolescente, completamente intratável. Chifrava todo mundo com sua cabeça sem chifres - ele era mocho - mas doía tanto como se ali eles estivessem. Sua catinga típica se espalhava insuportavelmente pelo ar, e passava a maior parte do tempo em poses pornográficas. Eu achava que ele já estava passando dos limites, constrangendo a todo mundo.
Meu pai resolveu dar um fim nessa história. Chamou um cunhado truculento que atravessou os testículos do pobrezinhos com um punhal. O ferimento foi tratado com sal grosso, e o Leslie ficou mais calmo por algum tempo. O mesmo tio truculento levou-o para a engorda. E o coitado, em um belo dia foi dependurado pelas patas traseiras em um galho de uma árvore. Foi degolado pelo mesmo infeliz.



Como não havia jeito mesmo, reivindiquei que a pele do meu bode Leslie fosse curtida. Ela ficou um bom tempo ao lado da minha cama. Seus pelos continuavam ásperos, e nem os poderosos banhos químicos do processo de curtição retiraram completamente sua catinga. Por fim, os pelos foram se soltando do couro e o Leslie em forma de tapete teve que ser descartado.

Nem morto ele facilitava a vida...

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Planticídio




















Ganhei de presente de uma amiga uma muda de "saco de padre". Um arbusto de ciclo anual que atinge a altura de aproximadamente 2 metros. Após o florescimento cresce uma esfera fina e oca envolvendo as sementes, do tamanho de uma laranja. Após o amadurecimento a esfera se abre e as sementes são levadas suavemente pelo vento, dependuradas em uma penugem branca, como uma peteca.

Neste ano, no auge de seu crescimento as folhas foram desaparecendo aos poucos, pedaços por pedaços, misteriosamente. Minhas primeiras suspeitas recaíram sobre as formigas, que tradicionalmente na calada da noite vem saquear as minhas plantas. As danadas não respeitam fronteiras, avançam sorrateiras percorrendo longas distâncias com o produto de seu saque nas costas. A luta para manter meu território intacto é árdua, uso todo o arsenal químico disponível nas agropecuárias, além de esconjuros e benzimentos. Mas desta vez, não foram as formigas. Examinando melhor as folhas, descobri lagartinhas em flagrante delito, rasgando as folhas e devorando com fome voraz e insaciável. Infelizmente, elas não eram tão feias quanto as formigas, e não tive coragem de liquidar um parente longínquo das zebras. Desta vez resolvi sacrificar minhas plantas para ver no que ia dar. Finalmente, quando o arbusto estava reduzido a meras estacas verdes, as lagartas gordas como leitões, escorregaram macilentas, à procura de um lugar seguro para a transformação. Esconderijos difíceis de se encontrar como bastidores de portas, laterais de vasos e até no fundo de um aquário abandonado encontrei uma delas.

No final, elas se transformaram em lindas borboletas monarcas. Acho que valeu a pena não interferir no andamento natural das coisas.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Chef Laura

Em um dia frio de inverno a Chef laura prepara também um manjar dos diabos para suas cachorras. Seguindo a longa tradição gastronômica-gororoboristica da família Gassen,
cujo lema principal é : O alimento é única e exclusivamente fonte de nutrientes para o corpo se manter em ordem por mais um dia. Símples e funcional. Nada de enfeites e sabores. Limitar-se à função do alimento, à essência! O resto é supérfluo!
Hmmm! dos deuses...
Para seduzir os clientes ela colocou um pouco de óleo de soja. O mais impressionante que até argila ela come se tem óleo de soja nela. O tempero-mágico! Um dia a Dalmata Perdita comeu tanta argila com óleo de soja, que uso em alguns dos processos de fazer cerâmica, que seu cocô era pura argila. Não conseguí controlar meu espirito de porc..., digo, de ceramista investigativo, e queimei o dito dejeto. Se transformou em uma cerâmica. Tem gente que coleciona coprólitos - cocôs fossilizados de dinossauro e pagam fortunas por eles. Eu geralmente uso estes de produção caseira para enojar pessoas de estômagos mais sensíveis que visitam o atelier. Se houver clamor popular, publico a foto do" Coprólito dalmatinense" no blog


A pretinha como sempre, mais elegante no comportamento que se espera de uma Lady canina



A Perdita perdida perdidamente em um dos seus profundos acessos de burrice.
A Laura está pescando-a usando como isca uma lagartixa de borracha.
Pasmem! Ela está convencidissima que é realmente uma lagartixa viva!





Depois de 15 minutos de infrutífera pescaria não tinha mais boca para tanta língua.
Reparem na Pretinha a lado, deitada, cansada só de olhar e pensando em seu latim canino:

"Quosque tandem abutere Perdita, patientia nostra?"

Livre adaptação do início de um dos discursos do cônsul Romano Cícero chamados de As Catilinárias, escritas no ano 62

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Manjar dos diabos


Não estava mais com saco de comer fora e nem de cozinhar grandes receitas. O prato foi acontecendo a medida que encontrava alguns ingredientes.
A minha querida e ausente mulher, Mariângela, deixou na geladeira uma vasilha de feijão cozido sem tempero. Encontrei neste freezer também um pedaço de bacon e duas salchichas de cachorro-quente. Cortei uma cebola e piquei 2 dentes de alho, dourei no óleo de oliva e acrescentei bacon e salsichas. Foi tudo para a panela, junto com 2 folhas de louro. Depois macerei manjerona, alecrim e tomilho com sal e óleo de oliva e joguei no caldeirão. Pensei que ficasse bom também com punhado de folhas de ora-pro-nóbis, que fervi um pouco, antes de jogar na mistura.
Ao levar as cascas para a composteira, me deparei com uma linda beringela que cresce por ali ali mesmo. Cortei-a em fatias e lá se foi para o caldeirão. Enquanto tudo fervia engororobando-se, preparei uma salada com almeirão, tomatinhos cereja e rúcula - tudo da horta.
Até que ficou saboroso. Neide, se quiseres por a receita da Goororoba à la Rui no Come-se, fique a vontade
Rui