Fomos ver uma interessante exposição no fantástico museu da Fundação Iberê Camargo, às margens do rio Guaíba, que por si só vale uma visita. É uma mostra da artista de origem gaúcha Regina Silveira. O que me tocou particularmente é a sala dedicada aos insetos.
Mergulhei no meu mundo infantil quando passava a maior parte do meu tempo livre envolvido com estes primos distantes.
Caçava borboletas no jardim sempre florido de minha mãe. Com uma linha fina, surrupiada de sua costuras, amarrava no abdomem das borboletas maiores e as levava para passear como cachorros aéreos.
De baixo das copas de uma linha de abacateiros gigantes, tudo é enorme quando se é pequeno, organizava uma fazenda com vaquinhas de abacates verdes de diversos tamanhos, pregos e galhos faziam as vezes de pernas. Na fazenda não poderia faltar um poço com água, que resolvia enterrando uma lata de nescau e sobre ela, com auxilio de duas forquilhas instalava uma manivela, com um baldinho pendurado em um barbante. A instalação ficava invariavelmente próxima a um ninho de formigas carnívoras, que faziam uns buracos entrando no solo, completamente polidos que lembravam as formas curvilíneas das orelhas.. Ao lado fazia uma jaula circular com estaquinhas de madeira. Ali colocava borboletas desasadas ou lagartas. As formigas passavam horas transportando as vítimas arrastando-as sobre o cercado até a entrada da toca, quando o inseto era grande demais era troçado na entrada da toca. Lembro que ao lado do ninho havia um depósito multi colorido com os restos de insetos devorados, asas de borboletas e de escaravelhos coloridos.
No Natal enchia vidros de compota com vaga lumes e saia vagando feito zumbi pelas noites do sítio.
Outra vez cismei em fazer uma gaiola para hospedar grilos cantores em cima de minha escrivaninha, passei semanas fatiando e amarrando ripas de taquara. Catei uns grilos de baixo de algumas pedras. Nas gaiolas eles eram bem alimentados com folhas da horta. Cantavam a noite toda. Até que roeram as fibras duras do bambu e se foram para dentro do guarda-roupa. Foi difícil acha-los, imagine o que fizeram com as fibras molinhas de minha roupas.
Esta exposição é meio amedrontadora, do tipo vingança dos insetos...
Sobre uma série de quadros do Iberê uma frase pintada ao longo da parede :
“Sou um andante. Carrego comigo o fardo do meu passado. Minhas bagagens são os meus sonhos.
Como meus ciclistas, cruzo desertos e busco horizontes que recuam e se apagam nas brumas da incerteza. Realidade e miragem se confundem. Os quadros que pinto são visões que breve serão os fósseis semeados à margem de meu rastro”.
Iberê Camargo.
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