sexta-feira, 8 de maio de 2009

Piano-armário, armário??


Faz muitos anos que temos um piano.
Logo que voltamos da Alemanha a Mariângela resolveu estudar piano e acabamos comprando um usado. Ela estudava assiduamente e era muito legal ouvir música saindo daquela caixa mágica. Depois que engravidou e nasceu a Laura o foco de sua dedicação foi dirigida à Laura.O piano armário, coitado foi ficando mudo em seu canto e lentamente transformou-se em um armário de fato. Só lembravamos que ele era ele na hora de mudar de residência. Até agora foram 4 vezes. Numa delas fomos morar no apartamento da minha irmã, no terceiro andar, sem elevador. Tínhamos feito uma olaria clandestina. Na área de serviço ficava o torno, o quarto da enpregada servia de depósito de matéria prima. Esmaltávamos no tanque e o forno ficava sobre o vaso sanitário do banheirinho. O piano, coitado, foi desmontado na rua pelo afinador, transportador e vendedor de pianos e transportado por peças escada acima. No fim de cada mudança ele era devidamente afinado e ficava na espera de que alguém fizesse música nele. Sempre voltava a sua humilhante função de armário.Na última mudança de Ivoti a Porto Alegre os 5 homens da transportadora não conseguiram carregá-lo no caminhão. Ficou ali por duas semanas, abandonado na varanda da casa de um sítio deserto. Uma imagem desoladora. A equipe de transportadores de piano foi acionada novamente. Já fazem 4 anos que sobre ele se acumulam objetos , desenhos, livros e muita poeira. Desta vez nem afinado ele foi.
Ainda resta uma esperança. A Laura, curiosa em experimentar as possibilidades da vida, mostrou interesse por música. Resolvemos dar uma chance para os dois. Depois de uma boa faxina e muito óleo de peroba ele ficou com uma boa cara para receber o afinador. Ele ficou inicialmente chocado com o estado do piano, as cravelhas enferrujadas. Mas foi a luta, viu que a ferrugem era somente externa. Descobriu a assinatura e a data de fabricação de 1916 do próprio Essenfelder, na parte interna da primeira tecla. Passou a tarde afinando e ajeitando o pobrezinho. Eu e a Laura ficavamos besourando pelo quarto, curiosos, até que o afinador gentilmente nos expulsou do quarto dizendo ser impossível afinar um piano de ouvido com tanto ruido ao redor.
Será que desta vez ele terá a oportunidade de mostrar conosco porque veio ao mundo?
O piano é como o barro que precisa de mãos talentosas para trazê-lo a vida e mostrar sua vocação. Nosso pobre centenário piano. Me pergunto quantos de seu anos serviram para produzir música, 10% da vida dele conosco só serviu de armário.
Ela já teve a primeira aula e eu, seduzido pela música também vou fazer aulas.





Alguns cacarecos que foram removidos dele





3 comentários:

Mariângela disse...

e eu fui visitá-lo várias vezes quando estava sozinho lá no sítio em Ivoti, não sosseguei enquanto ele não voltou a Porto Alegre.

Marcos disse...

A propósito da questão piano, neste final de semana, assistimos a um filme argentino chamado "A Janela" (do Carlos Sorin).
A história é muito triste e deprimente mas há também umas pitadinhas de humor como no momento que o afinador de pianos vai até a fazenda, para tentar fazer renascer o dito cujo, que se encontra parado há 40 anos, e, indignado com o estado do moribundo, diz para a empregada algo mais ou menos assim: pianos são como as mulheres, não podem ficar muito tempo sem serem tocadas.
Abraços

Daniele disse...

Bom, estou procurando um apiano usado em Porto Alegre, caso tenha interesse em vender, só fazer contato.

Abraço e boa sorte!