No Brique, a feira que faço aos domingos, acontece de tudo. Um verdadeiro zoológico humano.
Entre outras coisas, vendo miniaturas. Um atrativo irrestível para as crianças que primeiro vêem as coisas com as mãos, uma qualidade que a educação transforma em delito rapidamente.Alguns resistentes,como eu,continuam a ver com as mãos. Após serem muito reprimidas é que elas passam a ver primeiro com os olhos. Além disto a prateleira das miniaturas está mais baixa, à altura das mãozinhas deles. Uma tentação irresistível.
Neste último domingo chegou uma mulher na banca acompanhada de duas crianças de mais ou menos 3 e 4 anos.
-Mãos ao alto! - ordenou a mãe.
Imediatamente as criancinhas levantaram as mãos enquanto ela escolhia algumas miniaturas. Quando elas cansavam a mãe repetia a ordem e as mãozinhas iam de novo para cima. Na hora de ir embora ela comentou que esta era a única forma de manter seus diabinhos sob controle. Pensando um pouco na situação até achei que é uma boa treinar as crianças desde cedo para se adequarem a estes tempos de violência. Assim, quando forem assaltadas, nem elas e nem o ladrão perderão tempo. Tudo rápido e sem mal entendidos. Os ladrões estão muito ocupados e não podem perder tempo com firulas.
As mães andam muito inventivas. Lembrei-me de uma ocasião em que fui visitar a irmã de uma amiga no interior. Ela tinha uma filha com mais ou menos 3 anos. A mãe nos mostrou a coleção de bonecas da criança. Estavam todas enfileiradas sobre o guarda roupas e devidamente embaladas para não pegarem pó. Ocasionalmente alguma delas era mostrada para a menina e logo era colocada em seu lugar A criança com olhar desolado apontava suas bonequinhas. A mãe me contou que tinha um trauma de infância. Todas as bonecas que ela ganhava eram logo estraçalhadas de tanto que ela brincava, e agora como adulta ela queria ter algumas como recordação dos bons tempos perdidos. Chegava até a sonhar com as bonecas perdidas de sua infância. Por isso ela viu por bem poupar sua filha deste trauma e só lhe entregará as bonecas quando tiver mais responsabilidade para cuidá-las , acho que lá pelos seu 15 anos.
Como dizia o saudoso Quintana:
"Acordei num mundo tão estranho e louco,
quando começava a compreendê-lo um pouco
eram horas de dormir novamente"
2 comentários:
Oi, Rui
Mãos laureanas ilustram perfeitamente e caem como uma luva (digo um par deluvas) neste post.
Obs.: Ops, lembrei de um troço antigo aqui:
....
leve suas mãos para o céu
e agradeça se acaso tiver
alguém que você gostaria que
estivesse sempre com você.
Na rua nachuva na fazenda.
Ou numa casinha de sapé.
...
Abraços
Marcos, Valeu a intençao.
Mas eu acho que a estas criaturas depois de devidamente depenadas só restará uma casinha de sapé na beira da rodoviaAi acho que não tem amor que dure e perdure.
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