sábado, 12 de março de 2011

Surpresa no verão




Como todo ano, fomos passar alguns dias na casa da minha mãe em Santa Rosa, fugindo do calor opressivo de Porto Alegre do tipo panela de pressão. Em Santa Rosa, apesar de quente, não é tão úmido e sempre corre uma pequena brisa trazendo o frescor das sombras. Em teto de zinco, a chuva é uma delícia, chama o sossego e faz brotar nos ossos a preguiça dos anos, tomara que não acabe nunca o aroma vivo da terra molhada.



Num daqueles dias resolvemos ir a um balneário às margens do rio Santa Rosa, de água rasa, fresca e um fundo de seixos rolados. Uma ótima opção para passar a tarde ou acampar. Chovera no dia anterior, a água estava barrenta e um pouco alta atrapalhando nossos planos de banho. No acesso ao rio, ao lado uma árvore, minha filha Laura a viu primeiro, uma enorme e mal dormida jararaca disposta a tudo naquele dia. De tocaia, “Hoje mato alguém”. Estávamos em cinco pessoas mirando a cobra. Por sorte não veio nenhum dos que estavam acampados ou da lanchonete. Que fazer?






  
Organizamos rapidamente um julgamento sumário do tipo tribunal de guerra. Duas correntes prevaleciam, meu irmão e minha sobrinha queriam conduzi-la direto para o inferno a porretadas, já que ele fora mordido por uma delas quando tinha 6 anos (acho que foi por castigo divino, toda família estava indo ao culto dominical e ele resolveu ficar brincando no potreiro da casa da minha tia, correndo pelos caminhos deixados pelas vacas, quando foi picado por uma jararaca). Além disso, meu irmão temia pelas crianças acampadas. A segunda corrente de argumentos consistia em que ali era o habitat natural da cobra e nós eramos os invasores. A cobra também é uma grande predadora de ratos, que também são vetores de muitas doenças, e que provocam mais mortes que as picadas de cobras. Por impossibilidade natural, a opinião da cobra não foi levada em conta. O argumento decisivo foi o reconhecimento que apesar de sua picada ser letal, os homens são muito mais mortíferos entre si do que esses pobres animais.
Nunca vi nos jornais manchetes como:
“Jararaca bêbada atropela ciclistas em Porto Alegre”
“Cobra ciumenta inconformada com a separação mata suas filhas cobrinhas e se suicida em seguida para enlouquecer a companheira”
“Cobra enfurecida mata vizinho por estacionar na frente da sua toca”



Peguei um suporte de espeto da churrasqueira ao lado e dei para meu irmão cutucar a cobra até lançar-se ao rio. É impressionante a velocidade dela ao atravessar a corrente de água. Ela foi abrigar-se na outra margem, um pouco menos hostil.


Um comentário:

Neide Rigo disse...

Rui, que relato lindo! Se eu tivesse aí ainda teriam que contar com a ala "come ou não come?". Mas fizeram o melhor. Beijos, N