terça-feira, 31 de março de 2009

Pão não engorda!

A Preta é uma linda linguicinha, a primeira cachorrinha escolhida pela Laura quando tinha 4 anos. Morávamos ainda em Ivoti e elas eram companheiras inseparáveis de brincadeiras, até o soninho da tarde compartilhavam juntas Depois que ela cresceu mais um pouco ela aumentou o leque de estrepulias. Perseguia junto com a dálmata Perdita os patos Rita e Rito quando pastavam junto ao açude. Rito como bom marido se encarregava de defender sua companheira enquanto ela se refugiava na água. Ele levantava as asas e fazia investidas furiosas contra os agressores. Quando a Pretinha cansava se escondia de baixo de uma moita de barba de bode junto de uma árvore. O Rito ficava na vigília. Raramente os confrontos chegavam às vias de fato, parecia um passa tempo.

Rito e Rita tranquilos à beira do laguinho.

Somente uma vez o Rito perdeu a paciência com a Pretinha e arrancou um pedacinho de sua orelha.
Na falta de registros fotográficos, a Laura executou um retrato falado dos acontecimentos


Orelha faltando um pedaço

Quando o forno está aceso elas passam o dia embaixo dele curtindo o calorzinho irradiado, só saíndo dali para satisfazer as necessidades básicas: latir para os carroceiros que passam na rua.


Pretinha em trajes de festa. by Laura.


Pretinha nunca foi muito seletiva na escolha de seus companheiros. Ela teve duas crias. Se espremia por entre as grades, durante a noite, para seus encontros amorosos. Eu, como um pai não tinha a mínima ideia de que isso estava acontecendo. Ela estava engordando muito, pensava que era por causa das sobras de pão que ela adorava. Suspendi o pão, e nada de emagrecer. Deve ser um desequilíbrio hormonal, pensei preocupado. Parecia um balão - seriam gases? - Até que um belo dia nasceram seis pãezinhos pretinhos e lindinhos.




Ela já está com sete anos, fez aniversário dia 15 de março. Penso em fazer um casamento arranjado para ela, à moda árabe, com um noivo decente, de linhagem tradicional. Nada de lhe perguntar sobre suas preferências. O problema é encontrar o tal linguicinha. Passeio a noite com elas, mas todos os linguicinhas que encontramos são fêmeas. Será que não existe um site de relacionamento para linguicinhas?
Depois de tanto convívio, pensei em fazer uma escultura dela. A Laura colocava ela de pé, no colo, as patinhas da frente ficavam naturalmente curvadas como um madame com um lencinho na mão, e as banhinhas em inúmeras dobras na barriga. A modelagem estava demorando muito tempo, até que a Laura se rebelou e não quis mais segurá-la. Então, tive que usar um truque, coloquei a sua almofadinha preferida em cima de uma cadeira, ela ficava tranquilamente deitada, curtindo o seu momento de estrela.


2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom...ótima escultura...e que bela historinha...
abraço,javier

Marcos disse...

Rui
Esta relação que temos com nossos animais domésticos ainda não está redonda para mim. Não consigo me posicionar de forma clara e definitiva. Às vezes acho que os estamos agredindo brutalmente nossos interferindo por demais na livre expressão de suas naturezas. Não tenho dúvidas de que causamo-lhes, em certa medida, um crise de identidade em que não sabem mais se são cães ou um tipo de gente. Chego a pensar que as civilizações futuras nos condenarão implacavelmente considerando-nos bárbaros escravizadores de animais (à semelhança da escravização de humanos que praticamos até tão recentemente - e que de certa forma continua até hoje)
Por outro lado penso que a aproximação homem/cão (assim como outros animais domésticos), já milenar, tem um papel importante no processo civilizatório ao nos tornar mais sensíveis a outras naturezas, mais atentos a outros seres, que não só os humanos, possuidores de direitos fundamentais, como o de compartilhar conosco deste pobre planeta (enquanto ainda não o destruimos).
De qualquer forma esses bichinhos são encantadores e estão a nos dar lições o tempo todo.
Abraços