Hoje amanheceu um típico dia de outono
gaúcho. A neblina se estendeu até o meio dia e o frio convidava para um café quente com pantufas, nos pés, é claro. No inverno o atelier fica mais longe e a caminhada até ele é mais demorada. O olhar contemplativo na neblina
úmida e fria
desconvida para o trabalho no torno. O esquema é enrolar um pouco, esquentar a água para o
tôrno, pensar nas contas já vencidas e nas que virão e por-se ao trabalho. O mundo não tem paciência com os poetas. Os coitados só são admirados depois de mortos. Já se sabe o que fizeram e não podem aprontar mais. O poeta só é seguro depois de ido.
Bem! Antes do torno, uma
passeadinha pelos verdes do atelier revelam lindos e intrigantes sinais do outono.

A
umidade da neblina se condensa nos espinhos dos meus
cactus.

Li alguma vez que os espinhos dos
cactus além de defensores, auxiliares na disseminação das espécies, quando se grudam em algum animal que os arrastam dolorosamente juntos, também servem como captadores de
umidade do ar, principalmente quando
estão em áreas desérticas.

Uma de minhas plantas preferidas é o
Gynco b
iloba, por vários motivos.Pelo estilo de construção de folhas, sem nervura central e pelo
design geral percebe-se que ele é um remanescente de uma vegetação pré-histórica que sobreviveu a todas as crises que atingiram o planeta. Também
li que foi uma das poucas plantas que foram salvas da extinção pela mão do homem. Ele escapou do
desmatamento das florestas que cercam áreas do
Himalaia por que era usado como ornamentação para os templos.
De suas folhas também são extraídos poderosos medicamentos. Não pode ser utilizado in natura como chá, devido as toxinas que devem ser neutralizadas em laboratórios farmacêuticos.
Para mim o principal motivo de ter sempre por perto um Gynco é sua beleza nas mudanças de estações . No outono ele tinge suas folhas do profundo verde para o amarelo ouro em poucos dias, parecendo um sol deslocado. As folhas se vão quase instantaneamente deixando galhos pelados emergindo de um tapete dourado. Na primavera as folhas brotam instantâneamente, enroladinhas como uma língua de sogra que se espicha no primeiro sopro de calor.



A porta do atelier tomada pela vinha verde no verão e somente
cipós entrelaçados no inverno

A vinha avermelhando entre as unhas-de-gato

A folha da pereira em seu apogeu artístico antes de virar adubo.