sexta-feira, 19 de junho de 2009

Outono no Atelier

Hoje amanheceu um típico dia de outono gaúcho. A neblina se estendeu até o meio dia e o frio convidava para um café quente com pantufas, nos pés, é claro. No inverno o atelier fica mais longe e a caminhada até ele é mais demorada. O olhar contemplativo na neblina úmida e fria desconvida para o trabalho no torno. O esquema é enrolar um pouco, esquentar a água para o tôrno, pensar nas contas já vencidas e nas que virão e por-se ao trabalho. O mundo não tem paciência com os poetas. Os coitados só são admirados depois de mortos. Já se sabe o que fizeram e não podem aprontar mais. O poeta só é seguro depois de ido.
Bem! Antes do torno, uma passeadinha pelos verdes do atelier revelam lindos e intrigantes sinais do outono.

A umidade da neblina se condensa nos espinhos dos meus cactus.
Li alguma vez que os espinhos dos cactus além de defensores, auxiliares na disseminação das espécies, quando se grudam em algum animal que os arrastam dolorosamente juntos, também servem como captadores de umidade do ar, principalmente quando estão em áreas desérticas.



Uma de minhas plantas preferidas é o Gynco biloba, por vários motivos.Pelo estilo de construção de folhas, sem nervura central e pelo design geral percebe-se que ele é um remanescente de uma vegetação pré-histórica que sobreviveu a todas as crises que atingiram o planeta. Também li que foi uma das poucas plantas que foram salvas da extinção pela mão do homem. Ele escapou do desmatamento das florestas que cercam áreas do Himalaia por que era usado como ornamentação para os templos.
De suas folhas também são extraídos poderosos medicamentos. Não pode ser utilizado in natura como chá, devido as toxinas que devem ser neutralizadas em laboratórios farmacêuticos.
Para mim o principal motivo de ter sempre por perto um Gynco é sua beleza nas mudanças de estações . No outono ele tinge suas folhas do profundo verde para o amarelo ouro em poucos dias, parecendo um sol deslocado. As folhas se vão quase instantaneamente deixando galhos pelados emergindo de um tapete dourado. Na primavera as folhas brotam instantâneamente, enroladinhas como uma língua de sogra que se espicha no primeiro sopro de calor.





A porta do atelier tomada pela vinha verde no verão e somente cipós entrelaçados no inverno


A vinha avermelhando entre as unhas-de-gato

A folha da pereira em seu apogeu artístico antes de virar adubo.

2 comentários:

Neide Rigo disse...

Rui, você anda fazendo cursos de fotografia e não me contou nada. Fiquei encantada. Parabéns. beijos, n

vanessa disse...

Rui
tu tens uma intensidade incrível com as palavras. mesmo que não tivessem fotos, visualizaríamos td pelo teu modo de explicar. Parabéns, ´mais um grande talento: poeta das coisas simples...

Abraços, Vanessa