domingo, 15 de fevereiro de 2009

In Memorian ao Leslie

Esta história começa com um comentário que fiz no blog do meu amigo Marcos:
"Os vegetais herdarão o planeta"
Ele propunha ironicamente que para salvar o mundo da invasão verde, deveria se asfaltar tudo.

Marcos!
Proponho uma solução mais ecológica:Quando eu era criança tive um cabrito que até pneu de carro comia. Ele era peludo como um gato angorá. Tu poderias soltar algum descendente dele neste jardim de horrores. Em uma semana poderias passear neste jardim transformado em deserto com o irritante perfume dos flores substituído pela inebriante catinga de bode (Cuidado com as bolinhas de cocô)
Este bode se chamava , pasme, Leslie. Ganhei do meu vizinho, quando tinha a idade da Laura e quando ele ainda era um cabritinho inocente.




Como não existem registros fotográficos da época, fizemos um retrato-falado dos acontecimentos. Minha filha e web designer do blog, Laura, fez esta reconstituição acima. As outras são de minha autoria, feitas às pressas hoje à tarde quando estava no brique.

Uma vez ele comeu todas as mangueiras de uma máquina de passar veneno na lavoura. Passou uma semana tendo ataques epilépticos.Um vizinho me receitou trata-lo com linhaça descansada em água. Entre um ataque e outro eu enfiava linhaça guela abaixo do Leslie com auxilio de uma garrafa de Pepsi (das de vidro). E ele ficou bom. Acho que eu seria um bom médico...


O Leslie e eu éramos inseparáveis. Ele aprontava tudo que podia, uma das atividades preferidas dele era escalar um galinheiro enorme. Ele pulava em um telhadinho e depois pulava no maior, e ficava lá na ponta cacarejando os seus béééééés. Não sei se ele conseguiu conquistar alguma galinha dessa forma. Eu ficava muito aflito com a situação, mas ele não estava nem aí para minhas súplicas, para que descesse imediatamente dali.


O coitado cresceu e morreu virgem, a menos que seus cacarejos tivessem dado algum resultado. Eu não vi nada, e também não soube que alguma galinha tenha chocado ovos dos quais nascessem cabritos. Ele foi crescendo e se transformando em um bode adolescente, completamente intratável. Chifrava todo mundo com sua cabeça sem chifres - ele era mocho - mas doía tanto como se ali eles estivessem. Sua catinga típica se espalhava insuportavelmente pelo ar, e passava a maior parte do tempo em poses pornográficas. Eu achava que ele já estava passando dos limites, constrangendo a todo mundo.
Meu pai resolveu dar um fim nessa história. Chamou um cunhado truculento que atravessou os testículos do pobrezinhos com um punhal. O ferimento foi tratado com sal grosso, e o Leslie ficou mais calmo por algum tempo. O mesmo tio truculento levou-o para a engorda. E o coitado, em um belo dia foi dependurado pelas patas traseiras em um galho de uma árvore. Foi degolado pelo mesmo infeliz.



Como não havia jeito mesmo, reivindiquei que a pele do meu bode Leslie fosse curtida. Ela ficou um bom tempo ao lado da minha cama. Seus pelos continuavam ásperos, e nem os poderosos banhos químicos do processo de curtição retiraram completamente sua catinga. Por fim, os pelos foram se soltando do couro e o Leslie em forma de tapete teve que ser descartado.

Nem morto ele facilitava a vida...

2 comentários:

Anônimo disse...

pelo jeito o brique estava muito inspirador e movimentado ontem..né?..
leslie poderia virar personagem de historia em quadrinhos...
abraço,javier

Marcos disse...

Amigo Rui
Me senti assistindo a história de camarote e literalmente entrei nas suas ilustrações.
Não poderia ter sido mais legal a viagem.
Parabéns e obrigado
Abraços e até amanhã